No inicio de 2008 fui convidada a participar do curso de formação de professores oferecido pelo GEEMPA (Grupo de Estudos sobre Educação, Metodologia de Pesquisa e Ação), com o objetivo de capacitar os professores que trabalham com turmas de alfabetização e pós-alfabetização. Trabalhar em sala de aula com a proposta gempiana necessita o rompimento de paradigmas. É de Paulo Freire uma importante fala que diz: “Toda prática requer uma teoria”. Essa teoria precisa articular os conceitos compatíveis para que se torne consistente, pois não sendo assim os resultados de sua prática serão comprometidos. Ao realizarmos um comparativo entre os modelos pedagógicos as diferenças no resultado final do processo de aprendizagem é algo muito visível. O conhecimento sobre cada um desses modelos é primordial para a prática pedagógica do professor, pois ele deverá optar por somente um. No modelo pedagógico diretivo, que está relacionado com a epistemologia empirista, o professor ocupa a posição de detentor do saber/poder e o conhecimento é tido como uma espécie de cópia. Nesta prática de ensino-aprendizagem a ação do professor acaba por tornar os alunos pouco criativos e sim, repetitivos. Tive a oportunidade de ler textos na interdisciplina de DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM SOB O ENFOQUE DA PSICOLOGIA II, no eixo 6.
Na epistemologia apriorista, que acredita que ao nascer o homem já traz ao nascer à estrutura cognitiva necessária a construção de conhecimentos, a prática do professor na pedagogia não-diretiva será determinada por esse conhecimento pré-formado do sujeito. “Esta epistemologia acredita que o ser humano nasce com o conhecimento já programado na sua herança genética.” (Becker, 2001b, p. 20). Baseado no modelo epistemológico construtivista, na pedagogia relacional o professor provoca o aluno a pensar sobre o objeto de aprendizagem, criando condições para construa seu conhecimento, sempre levando em consideração as suas vivências e conhecimentos anteriores. Os conceitos dos modelos não são compatíveis entre si, tornando inviável a mistura, pois acarretará em um empobrecimento da prática pedagógica em sala de aula.
Ao me apropriar dessas informações comecei a rever a minha prática em sala de aula. O professor também precisa pensar, e muito, pois "só ensina quem aprende". É importante saber que uma provocação adequada conseguirá acelerar a aprendizagem na construção do conhecimento, pois todos podem aprender desde que sejam realmente provocados de maneira inteligente. O professor precisa saber quais conhecimentos seus alunos trazem para a escola, nunca os igualando. O ato de aprender possui duas fases, a chamada por Piaget de dialética, o sujeito toma consciência da incompletude da hipótese e necessidade de ruptura, e a discursiva, logo após a formulação de uma hipótese e seu acolhimento por um determinado tempo.
“Todo desenvolvimento é composto de conflitos e incompatibilidades momentâneas que devem ser ultrapassadas para alcançar um nível mais alto de equilíbrio.” (PIAGET, 1996)
No inicio das aulas os professores fazem uso de uma entrevista individual, conhecida por Aula Entrevista, que mede os quatro ramos da alfabetização: escrita, leitura sons, letras e unidades lingüísticas.
É importante descrever o contexto de aplicação de uma Aula Entrevista, momento especial de aprendizagem, tanto para o professor quanto para o aluno que é feita nos primeiros dias do ano letivo e também no decorrer do mesmo. É um instrumento auxiliar que possibilita caracterizar a rede de hipóteses durante o processo de alfabetização. Antes de uma Aula Entrevista é imprescindível um diálogo com o aluno, pois a partir da conversa é que será possível conhecer as palavras que forem significativas e desta forma revelando que a escrita das letras deve estar associada à leitura do mundo. O diálogo com o qual se inicia uma Aula Entrevista permite ao professor um contato com cada aluno, necessário para o desenvolvimento das relações professor-aluno. A Aula Entrevista possui um roteiro que o professor deve solicitar ao aluno, passos direcionados através de uma ação mediadora.
1. Em uma folha branca, solicita-se que o aluno faça a escrita do próprio nome, da forma como acha que é;
2. Leitura do próprio nome;
3. Escrita de quatro palavras e uma frase:( as palavras devem partir do diálogo entre professor e aluno, mesmo contexto semântico).
4. Leitura de um texto pelo professor;
5. Leitura das quatro palavras e uma frase;
6. Retomar o diálogo significativo, desenvolvido desde o inicio da entrevista. Transformar esse acontecimento em texto que o professor escreverá em letra bastão. Pedir ao aluno leia o texto sozinho;
7. Pedir para que o aluno escreva todas as letras que conhece;
8. Nomes de letras e sua associação com a inicial das palavras
9. Classificação das unidades lingüísticas.
É importante que essa entrevista ocorra de forma periódica.
O próprio Piaget define a assimilação como:
“[...] uma integração à estruturas prévias, que podem permanecer invariáveis ou são mais ou menos modificadas por esta própria integração, mas sem descontinuidade com o estado precedente, isto é, sem serem destruídas, mas simplesmente acomodando-se à nova situação.” (PIAGET, 1996, p. 13)
Após as aulas entrevistas são confeccionadas as “escadinhas” de acordo com o nível de cada aluno na hipótese da escrita. Com essas informações concluídas é feito a eleição dos grupos áulicos onde os alunos mais votados são eleitos “líderes” e escolhem três colegas para formar o grupo de preferencialmente de no mínimo quatro pessoas. Nos grupos áulicos as crianças se organizam diariamente, realizando as tarefas em individual e também de forma coletiva. As tarefas de jogos estão presentes diariamente
Referências
BECKER, Fernando. Modelos Pedagógicos e Modelos Epistemológicos. In: Educação e construção do conhecimento. Porto Alegre: Artmed, 2001.
PIAGET, Jean. Biologia e Conhecimento. 2ª Ed. Vozes : Petrópolis, 1996.