.


Universidade Federal do Rio Grande do Sul


UFRGS


Curso de Licenciatura em Pedagogia:


Anos Iniciais do Ensino Fundamental Modalidade a Distância


Pólo Gravataí



Josiane Ferreira Nunes


sábado, 26 de junho de 2010

Observo em meus alunos, pequenos pesquisadores que experimentam e buscam respostas para as muitas perguntas que fazem sobre este mundo ainda tão cheio de mistérios. Constroem e reconstroem teses sobre o funcionamento dele, da natureza e da vida. Sentem-se livres e entusiasmadas para questionar, argumentar e experimentar todas as coisas que estão a sua volta.

Este pesquisador curioso não para, não se contenta com os objetos que estão próximos dele, vai além e viaja. Ao dominar a palavra, enriquece seus pensamentos e alça vôo no mundo das idéias. Se antes brincava com seus brinquedos, agora brinca também com palavras.

Por vezes, ao ingressarem na escola, as crianças e seus pais pensam que elas irão progredir, do não conhecimento para a aquisição do conhecimento que é tão valorizado pela sociedade. A criança que é livre para conhecer, criar, brincar com objetos e que se diverte com suas fantasias, ao adentrar na escola muitas vezes é convidada a deixar todas estas capacidades do lado de fora das salas de aula. Inicia-se assim o processo de padronização, todas as crianças serão educadas para agir, falar, escrever e até pensar igual. E infelizmente é o que percebo. Não há mais tempo para exploração, brincadeiras, o aprender com prazer. Os alunos devem passar pela tortura de repetir, copiar e decorar. Agora o aluno não segue mais seus interesses, pelo contrario, só faz aquilo que o professor mandar. Essa era uma realidade que encontrei logo no inicio do ano, com as duas turmas. Certo dia fui questionada por uma mãe sobre a questão do caderno de caligrafia. A filha dela havia feito o ano passado inteiro e este ano eu ainda não havia “passado” nada. Perguntei para a mãe o que adiantou “a coleção” de cadernos de caligrafias do ano passado se a filha dela ainda não havia sido “despertada” para a questão de ter uma letra legível. A menina se torturava no inicio do ano por não fazer uma letra igual a minha (o que a mãe queria). Tenho “pânico de letra de professora”. A letra é identidade, cada um tem a sua. Comento com as crianças sobre o “traçado de cada letra”, mas eles são os juízes de suas letras: precisam ler o que escrevem!

A criança a medida que se sente sufocada por uma prática pedagógica que não lhe dá espaço, perde toda sua autonomia criadora, fala frases feitas, decora conceitos que para ela nada significam e tem medo de ousar, pois o taxativo “certo e errado” a amedronta. Na escola a criança “aprenderá” varias coisas, mas o mais importante não lhe será ensinado, o mais importante foi esquecido, a escola não ajuda o aluno desenvolver sua competência cognitiva, a de pensar. Ao invés disso são ensinadas respostas certas, para as quais não é necessário pensar, basta o exercício de memória. É preciso ter a autonomia como principal objetivo educativo, lembrando que: é preciso ensinar os alunos a pensar, e é impossível aprender a pensar num regime autoritário. Pensar é procurar por si próprio, é criticar livremente e é demonstrar de forma autônoma. O pensamento supõe então o jogo livre das funções intelectuais e não o trabalho sob pressão e a repetição verbal (PIAGET, 1998).

Não devemos ser conivente com uma prática em que o professor detenha controle da conduta, das atitudes e do saber das crianças. Quando as crianças sofrem coerção dos adultos, numa relação de respeito unilateral, acabam acreditando que somente eles têm razão e suas afirmações são consideradas verdades. A autoridade adulta sobre o pensamento da criança não apenas prescinde de verificação racional, mas também retarda freqüentemente o esforço pessoal e o controle mútuo dos pesquisadores (PIAGET, 1998, p. 118).

Referências Bibliográficas

PIAGET, Jean. Sobre a pedagogia. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1998.

Um comentário:

Anice - Tutora PEAD disse...

Olá, Josiane:

A postagem está bárbara! O exemplo da conversa que tiveste com a mãe da aluna é um exemplo de modificação positiva. Trouxeste reflexões, exemplos de tua prática e sustentação teórica tornando a postagem completa!

Grande abraço, Anice.