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Universidade Federal do Rio Grande do Sul


UFRGS


Curso de Licenciatura em Pedagogia:


Anos Iniciais do Ensino Fundamental Modalidade a Distância


Pólo Gravataí



Josiane Ferreira Nunes


sábado, 16 de outubro de 2010

Construindo e reconstruindo...

Na passagem desse dia do professor, fui "tomada" por uma inspiração...hehehe... Sempre é válido refletir sobre essa data tão importante e o quanto, ao longo de minha caminhada no PEAD, fui me distanciando da velha ideia de pensar que a aprendizagem é um processo no qual o aluno é um receptor passivo de um conhecimento/produto que já vem pronto, definido, com pleto e inalterável, transmitido por um professor detentor deste saber único e incontestável. Sei que essa concepção ainda encontra espaço em algumas salas de aula, até mesmo na escola em que trabalho. É um pensamento que teima em resistir, pois desde o início do século XX, John Dewey, filósofo norte-americano, já afirmava outra visão de aprendizagem, baseado no princípio do “aprender a fazer, fazendo”, segundo o qual a aquisição de conhecimentos se dá por meio do que chamou de continuum experiencial, o aluno é o centro do processo de aprendizagem e seus conhecimentos se originam de experiências significativas, tendo sempre relação com conhecimentos. É dessa forma que busco reformular e questionar a minha prática, pois desejo que meu aluno tenha a autonomia suficiente para realizar as conexões entre o “velho” e o “novo” conhecimento. Observo em meus alunos, pequenos pesquisadores que experimentam e buscam respostas para as muitas perguntas que fazem sobre este mundo ainda tão cheio de mistérios. Constroem e reconstroem teses sobre o funcionamento dele, da natureza e da vida. Sentem-se livres e entusiasmados para questionar, argumentar e experimentar todas as coisas que estão a sua volta. A criança, à medida que se sente sufocada por uma prática pedagógica que não lhe dá espaço, perde toda sua autonomia criadora, fala frases feitas, decora conceitos que para ela nada significam e tem medo de ousar, pois o taxativo “certo e errado” a amedronta. Na escola a criança “aprenderá” várias coisas, mas o mais importante não lhe será ensinado, o mais importante foi esquecido, a escola não ajuda o aluno a desenvolver sua competência cognitiva, a de pensar. Ao invés disso são ensinadas respostas certas, para as quais não é necessário pensar, basta o exercício de memória. É preciso ter a autonomia como principal objetivo educativo, lembrando que: é preciso ensinar os alunos a pensar, e é impossível aprender a pensar num regime autoritário. Pensar é procurar por si próprio, é criticar livremente e é demonstrar de forma autônoma. O pensamento supõe então o jogo livre das funções intelectuais e não o trabalho sob pressão, a repetição verbal (PIAGET, 1998).

Um momento interessante do estágio foi quando debatemos sobre a palavra “Descobrimento”. Qual a diferença entre descobrir, achar e encontrar? O Brasil já era habitado? Por quem? Particularmente eu sou contra a expressão “Descobrimento do Brasil” e toda aquela historinha que ouvi desde pequena. Graças a um professor, no Ensino Médio, os meus olhos se abriram e já bem “grandinha” é que comecei a me dar conta de toda essa história que me venderam pronta. Muito interessante foi perceber que meus alunos não acreditariam na mesma historinha para boi dormir que ouvi lá em 1900. Assim que questionei sobre a palavra descobrimento já começaram os primeiros zuns-zuns nos grupos. Como descobrir algo que outros (índios) já tinham descobertos? Em resumo: para as crianças o Brasil não foi descoberto, nem achado (pois segundo eles o Brasil não estava perdido para ser achado). Construímos um texto coletivo sobre o assunto.

Também conversamos sobre o resultado oficial das eleições. É preciso que, desde a escola, se tenha consciência da importância da participação na vida política e que as crianças se preocupem com aquilo que acontece no país. Os comentários foram muito interessantes, pois foi possível perceber aqueles alunos que já estão “ligados” na situação e percebem que os políticos são eleitos, escolhidos pela maioria da população, demonstrando sua opinião. A responsabilidade é de todos os cidadãos! E é justamente na construção dessa responsabilidade cidadã que entra a preocupação com as crianças brasileiras

Não devemos ser conivente com uma prática em que o professor detenha controle da conduta, das atitudes e do saber das crianças. Quando as crianças sofrem coerção dos adultos, numa relação de respeito unilateral, acabam acreditando que somente eles têm razão e suas afirmações são consideradas verdades. A autoridade adulta sobre o pensamento da criança não apenas prescinde de verificação racional, mas também retarda frequentemente o esforço pessoal e o controle mútuo dos pesquisadores (PIAGET, 1998, p. 118).

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