Na Interdisciplina de ESCOLARIZAÇÃO, ESPAÇO E TEMPO NA PERSPECTIVA HISTÓRICA, no EIXO 2 lembro-me de um texto que me possibilitou muitas reflexões. O texto Maquinaria Escolar de Julia Alvarela e Fernando Alvarez cujo objetivo principal dos autores é mostrar como e quando se deu a criação da escola primária, e quais os interesses políticos e ideológicos que estiveram envolvidos no momento de sua criação.
Para fazer isso, os autores discutem a invenção da infância, a criação de um espaço específico destinado à educação das crianças, o aparecimento desse corpo de especialistas chamados de professores, o combate a outros modos de educação existentes na sociedade, possibilitando finalmente que a escola se institucionalize como instância obrigatória mantida pelos poderes públicos.
A Igreja tanto a católica como a protestante tinham grande interesse de estar no poder, utilizando assim todos os meios a seu alcance para ocupar postos de influência ao lado dos monarcas. Após a reforma, as táticas utilizadas passam ser diversificadas, pregações massivas e públicas para a extensão e intensificação da fé desde a manipulação sutil e individualizada das almas (A Santa Inquisição). Estar voltada para a educação da infância era uma oportunidade de “modelar” opiniões sendo o meio norteador de uma “sociedade civilizada e submissa”. Era um meio de fazer valer seus saberes na corte, tornando-se conselheiros, confessores reais, preceptores e mestres de príncipes, em especial príncipes herdeiros.
Na minha comunidade há uma forte presença na Igreja Protestante de grupos de jovens que se encontra em horários diferenciados do culto, bem como na Igreja Católica há grupos com semelhante formação. Atualmente as Igrejas continuam investindo na formação dos jovens. Basta observar o empenho que muitas igrejas têm em facilitar a participação dos jovens, através de grupos, retiros e encontros. Existem escolas da rede particular de ensino que são vinculadas a Igrejas e as utilizam como formação do educando. As escolas públicas, em sua grande maioria, utilizam esse horário das aulas de religião para trabalhar o lado afetivo da criança com questões envolvendo o compartilhar e o ser solidário principalmente.
A escola em que trabalho possui um vínculo com a comunidade católica local, mais por tradição e por proximidade com a Paróquia. São realizados missas nas datas festivas de nosso calendário, bem como cerimônias especiais, homenagens às mães. Nessa comunidade não sei se há grupos de jovens, há sim um grupo de catequese com as crianças da faixa etária apropriada. As crianças tende a participar da religião de seus pais (adventistas, evangélicos, católicos ou luteranos). A religião predominante em minha sala de aula é a Católica, onde apenas cinco alunos são Evangélicos.
Segundo as ideias do historiador Philippe Áries, a infância, tal como hoje a percebemos, começa a ter forma a partir do século XVI. No entanto é possível constatar que já no século XV a iconografia laica apresenta crianças nos mesmos locais, fazendo as mesmas coisas que os adultos e vestidos da mesma forma que estes, como “mini adultos”. A partir do século XVII começa haver a diferenciação em seus trajes, que passam a ter uma moda particular. Essa mudança iniciou pela representação da vestimenta dos meninos, sendo estes os primeiros a frequentarem as escolas. No século XVIII a infância é separada da adolescência definitivamente, fazendo com que surja no século XIX o bebê como uma nova figura, sempre definindo apenas as crianças de classes altas. Atualmente podemos o perceber significativas diferenças entre a infância vivenciadas entre essas gerações, que vão desde a maneira de falar, vestir-se e relacionar-se até a maneira como lidam com seus sentimentos e a evolução tecnológica. A começar pelo avanço tecnológico, que proporcionou comodidade e talvez, certa impessoalidade as relações. Apesar destes avanços, as crianças de meio urbano e rural possuem distinções em seu processo lúdico. Enquanto as crianças da zona urbana possuem acesso a computador, internet, videogame, dentre outros, a criança do meio rural ainda carrega consigo o compromisso de auxiliar seus pais nos afazeres rurais. Esta cultura, não tão fechada como há anos atrás, pois estes têm acesso a DVD, TV e muitos jogam futebol como todas as outras. As famílias não estão tão numerosas como tempo a trás e muitas crianças não tem com quem brincar em casa, visto que as distâncias entre muitas casas no interior chegam ser de quilômetros.
Hoje meus alunos levam brinquedos para a sala de aula e fazem uso desses no recreio, “antigamente” lembro que não era permitido. Houve tempos em que as brincadeiras eram bastante distintas, quase que exclusivas para cada sexo. No entanto as crianças de hoje brincam com as mesmas brincadeiras sem distinção de sexo, surgindo, por vezes, certo preconceito nesta ação, mas superado muito rápido em relação há tempos passada. Percebo que as crianças eram mais criativas no sentido de realizar brincadeiras, buscar alternativas próprias sem contar com a Tecnologia, de fácil acesso nos dias de hoje. Não se fazia necessário sair de casa e ir a uma lanchonete para se realizar um “lanche feliz”. A sociedade cria desejos, principalmente nos jovens, forçando-os a se adequarem às regras de consumo para se sentirem realizadas. Lembro-me de ter visto um documentário onde uma publicitária era especialista em produzir comerciais para crianças, onde a ideia principal era ensinar modos subliminares às crianças para forçarem os pais a comprarem os brinquedos anunciados. A felicidade e a realização são pintadas como produtos que podem ser comprados no mercado. Penso que atualmente as crianças e jovens com melhor poder aquisitivo dispõe de mais facilidades e comodidades no quesito diversão, mas nem sempre é garantia de satisfação, alegria e qualidade.
Para que haja um desenvolvimento sadio na formação da criança é importante e necessário que a mesma relacione-se com diversos meios, como os pais, adultos, professores, crianças de outras idades para que possa desenvolver-se na diversidade. As escolas têm sua parcela de importância para este desenvolvimento, porém acredito que o currículo não deve ser padronizado no país, uma vez que cada estado e município possuem peculiaridades distintas, sendo importante para a criança conhecer outras culturas, valorizando a local. É importante ressaltar a visão de que a escola não se destina unicamente a preparação do indivíduo para o mercado de trabalho, mas sim criar condições, oportunizar experiências que permitam o amadurecimento deste educando.
Na comunidade onde moro a família ocupa a primeira instância de socialização das crianças e jovens. Infelizmente muitas famílias se encontram desestruturadas e desacreditadas, pois muitos pais estão separados, ou até mesmo vivem juntos, em constantes brigas e descontroles. Outros possuem uma elevada jornada de trabalho, buscando melhorar sua condição social. Essas famílias apostam na escola como solução dos problemas apresentados por seus filhos. Penso que a escola encontra-se em segundo lugar nas instâncias. Na comunidade em que minha escola está inserida não apresenta quase recursos para socialização. A Escola ainda precisa percorrer um longo caminho até chegar a fazer parte efetivamente desta comunidade, levando em consideração as peculiaridades existentes.
Pensando acerca de minha própria passagem pela escola, quando criança e jovem, e de meu trabalho nela atualmente, na fase adulta, como professora, particularmente não consigo lembrar-me de muitos detalhes de minha vida escolar. Tenho alguns fatos que recordo como passeios e atividades diferenciadas no pátio da escola. Tenho contato direto com a escola onde estudei todo o meu ensino fundamental, mas não é “aquela coisa”... Fica até chato quando encontro alguém da época e vem falar comigo cheio de saudades... Não tenho. Dos fatos que lembro sei até de detalhes! Em especial dos passeios! Foram poucos, mas significativos! Lembro-me da primeira vez que fomos ao zoológico. Estava na segunda série e o meu pai, que trabalhava em uma empresa de ônibus que foi o motorista. Quando vi meu pai no volante... Puxa era o meu pai que estava levando os meus colegas para o nosso primeiro passeio! Nunca tinha passeado com meu pai, assim nesses lugares que geralmente levam seus filhos. Quando chegamos lá me recordo de ver uma turma inteira de criança atadas pelos pés por uma corda... Nossa aquilo me impressionou! Estudei em uma escola de freiras... As professoras não tinham muito carisma. Essa falta me impressionou e fez com que eu adotasse uma postura diferente quanto educadora. Certa vez conversei sobre isso com meus alunos. Disse que me sentia diferente das minhas professoras e tentava trata-los da maneira como eu gostaria de ser tratada! Eles me confessaram que eu era diferente de outras professoras, pois sempre os chamo com palavras de carinho, mesmo quando estou “brava”.
Um comentário:
Josi,
interessante o resgate que você fez de sua própria infância no que diz respeito a escola, após as reflexões iniciais sobre a constituição da infância enquanto categoria. Penso que você poderia fechar sua reflexão relacionando o entendimento da infância como categoria, diferente de "mini adultos", em relação a seus próprios alunos.
TAmbém sugiro algum cuidado na clareza do texto, como por exemplo, quando fala em reforma. Reforma de que ? Qual reforma ? O leitor precisa deduzir. SEria mais didático você mesma explicitar. No mesmo sentido, situar os fatos no tempo, por exemplo quando diz " Igreja tanto a católica como a protestante tinham grande interesse de estar no poder". Tinham esse interesse em que ano ou em que época ?
Clevi
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